quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dica de site

O Instituto Ecofuturo, que realiza programas na área da educação e do meio ambiente, como o Ler é Preciso, disponibilizou o guia Passaporte da Leitura e da Escrita, para comemorar o Dia da Educação (28 de abril). Acesse o Passaporte aqui

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Como elaborar um projeto de leitura? – a escolha do acervo (Gêneros da Literatura Infantil) - Beth Baldi - parte 2

MODALIDADES DE LEITURA:
Biblioteca todos os dias
Leitura socializada
Leitura individualizada
Unidade de leitura



Variam quanto a:
•objetivos específicos
•escolha dos textos
•periodicidade e tempo
•apresentação dos textos
•formas de exploração

BIBLIOTECA TODOS OS DIAS
- Conhecimento do acervo
- Familiarização c/ o espaço da biblioteca: suas funções, funcionamento, organização e regras

Os próprios alunos manuseiam os livros, escolhem-nos nas estantes e os guardam, construindo uma familiaridade c/ os diferentes gêneros da literatura e tb com outros tipos de textos e suportes: jornais, revistas, informativos (Ciências Naturais e Sociais, livros de Arte, dicionários, atlas), enciclopédias etc.

Leitura individual ou em duplas
20 a 30 min diários
Acompanhamento próximo da professora
Exploração: recomendações ou propaganda dos livros, levantamento de preferências, comentários c/ profª e colegas
Texto de livre escolha do aluno

LEITURA SOCIALIZADA
- Construção de referências e critérios s/ gosto literário, compartilhando vivências significativas de identificação e vinculação c/ determinadas obras e/ou autores
Mensal, bimestral ou trimestral, conf. o volume de texto da obra escolhida
- A professora lê a obra aos alunos, em capítulos diários, previamente selecionados e organizados.
- O texto está num nível um pouco além do que os alunos teriam condições de ler sozinhos.
- Exploração: comentário ou discussão que mobilize os alunos para a leitura que começa/continua, lembrando o capítulo anterior

Leitura em casa
LEITURA INDIVIDUALIZADA
- Obra que o aluno seja capaz de ler sozinho
- Prazo de 1 mês e meio, aproximadamente
- Desenvolvimento da capacidade autônoma de leitura, sendo capaz de recomendar e/ou recontar
(1ª leitura indiv.: biblio da sala)
Exploração: seminário, em que cada um traz um pouco do que pensou e sentiu com a leitura, compartilhando c/ os outros e se enriquecendo c/ as diferentes visões e leituras; expressão a/p do texto: dramatização, declamação, expressão plástica etc.

UNIDADE DE LEITURA
Textos escolhidos a partir de um determinado foco
Aproximadamente 2 textos por semana
Unidades bimestrais ou trimestrais, conf. organização da escola
Propostas específicas c/ cada texto:
•trabalho oral e escrito de interpretação
•análise de diferentes aspectos: conteúdo, linguagem, estrutura e formatação, universo vocabular, construções típicas, narrador, efeitos interessantes etc.
•leitura nas entrelinhas e p/ além de sua pp leitura
Os alunos têm acesso ao mesmo texto: em grupos, duplas ou individualmente, se possível
Reconhecimento da linguagem como um recurso utilizado pelos autores para atingir determinado resultado

Conhecimento mais aprofundado da obra de determinado autor ou de determinado gênero de texto
Ampliação das capacidades de:
•compreensão e interpretação de texto, construindo relações e sentidos
•comparação, inferência, formulação de perguntas, posicionamentos ou argumentos a respeito dos textos - seu conteúdo ou forma
•análise retórica do texto

COMO ELABORAR UM PROJETO DE LEITURA:

•Inseri-lo em uma proposta mais ampla de leitura
•Mergulhar na obra (do autor, em determinado gênero ou tema que será abordado, buscando os clássicos e os contemporâneos de maior qualidade)
•Discutir, compartilhar ideias e opiniões com seus pares (equipe) sobre as obras, seus autores e ilustradores
•Caracterizar determinado conjunto de textos escolhido (seminário), em termos de conteúdo (temas), linguagem, estrutura etc., buscando definir o que será trabalhado em cada série
•Selecionar os textos a serem trabalhados em cada modalidade de leitura e em cada série/grupo
•Elaborar as propostas por texto, pensando nos produtos finais e nos fechamentos (socialização)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Como elaborar um projeto de leitura? – a escolha do acervo (Gêneros da Literatura Infantil) - Beth Baldi - parte 1

Projeto de leitura ou proposta de leitura?

Projeto – planejamento restrito a um determinado período de tempo, a/p de um determinado conjunto de textos, p/ uma determinada série ou turma

Proposta de leitura – algo mais amplo, p/ uma determinada escola/instituição ou programa, p/ uma determinada etapa da escolaridade/faixa etária, e que inclui PROJETOS

PROPOSTA DA ESCOLA PROJETO

OBJETIVOS GERAIS
Desenvolver o pensamento letrado dos alunos, no sentido da apropriação cada vez maior e mais abrangente da linguagem escrita dos textos literários
Aperfeiçoar a compreensão leitora e as possibilidades de estabelecimento de relações e construção de sentidos, bem como a fluência e a expressividade na leitura pelos alunos
Utilizar a leitura como fonte de prazer e informação, ampliando o repertório dos alunos com diferentes gêneros de textos, autores, ilustradores e recursos da linguagem escrita, e construindo uma história de leitor

PRINCÍPIOS:

Diversidade
São diferentes textos e formas de leituras, bem como situações, tempos e dinâmicas variadas de trabalho p/ explorá-los, em que alunos e professores vão exercendo diferentes papéis.

Simultaneidade
Essas diferentes modalidades e propostas de trabalho coexistem, ou seja, acontecem simultaneamente num mesmo período (dia, semana, trimestre, ou numa mesma hora), interrelacionando-se.

Continuidade
Também sustentam-se e se mantém no tempo, cada uma seguindo sua sequência, se desenvolvendo e chegando a um fechamento, para logo ser retomada sob outro foco ou abordagem.

Assiduidade
Às mesmas práticas se volta, diária e reiteradamente, como num espiral em que se vai e volta o tempo todo, revendo o que já se fez e viveu.

Progressão
Mas essa volta constante deve sempre ampliar e diversificar, de modo que a cada vez se volte mais enriquecido. Ou seja, é uma volta, mas nunca é exatamente igual, pois as propostas tem desafios ou níveis de complexidade cada vez maiores, provocando avanços progressivos.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS GERAIS:

- Uso do próprio livro
- Leitura e não contação
- Exploração do texto c/ jogos e brincadeiras
- Diferentes possibilidades de leitura pelos alunos
- Importância das intervenções da profª, lançando desafios e propostas, informando, auxiliando os alunos a estabelecerem relações e formularem ideias
- Importância de critérios claros p/ seleção de textos

Seleção criteriosa dos textos

• diferenciar categorias existentes: didáticos e paradidáticos, de um lado, e literatura de outro
• separar “o joio do trigo” para oferecer aos alunos a literatura de melhor qualidade de que se dispuser

“Procuro, neste assunto, ter em mente a frase de Thomas Mann, segundo a qual a leitura de bons livros deveria ser proibida, porque existem os ótimos – mas não sou tão radical. Há muitos livros apenas “bons” que merecem ser lidos, e nem sempre o bom e o ótimo são classificados uniformemente por leitores diferentes...”.
José Mindlin,
Uma vida entre livros – reencontros com o tempo (1997)

Escolhe-se, em todas as modalidades de leitura, livros ou textos que:

sejam literatura - temas humanos, mesmo que banais e cotidianos, mas sem lições de moral e permitindo troca de impressões, contato com uma linguagem expressiva, renovadora e poética, e discussão de temas que especulam sobre o significado da existência; quer dizer, que não sejam textos descartáveis, de que nunca mais os alunos se lembrarão e que não foram capazes de lhes tocar de nenhuma maneira

tenham um projeto gráfico bem cuidado e atraente - atenção especial às ilustrações para que sejam não somente complementares ao texto mas que também possam ser instigantes para o leitor quando transcendem ao texto

estejam adequados à idade dos alunos a que se destinam - sem nunca menosprezar a capacidade do leitor

quinta-feira, 15 de abril de 2010

PROJETO FAROL DA LEITURA (Minas do Leão)



“Toda leitura cultural tem sempre um destino, não caminha a esmo. Esse destino pode ser a busca, a assimilação, a retenção, a crítica, a comparação, a verificação e a integração de conhecimentos”. (Gagliano, 1979)

UM BOM LEITOR É AQUELE QUE . . .
•Lê com objetivo determinado
•Lê unidades de pensamento
•Tem vários padrões de velocidade
•Avalia o que lê
•Possui um vocabulário
•Tem habilidade para reconhecer o valor do livro
•Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitiva ou periodicamente
•Discute frequentemente o que lê com os colegas
•Lê vários assuntos
•Adquire livro com frequência e cuida de ter sua Biblioteca particular
•Lê muito e gosta de ler
•O bom leitor é aquele que não só é bom na hora da leitura (. . .) é constantemente um leitor. Não só lê, mas sabe ler.

(Salomon,1972)

REGRAS ELEMENTARES PARA A LEITURA:

• entender o que se lê;
• avaliar o que se lê;
• discutir o que se lê;
• aplicar o que se lê.
(Gagliano,1979)

UMA LEITURA PROVEITOSA. DEVEMOS CONSIDERAR:

•atenção;
•intenção;
•reflexão;
•espírito crítico;
•análise;
•síntese;
•velocidade.

JUSTIFICATIVA


Conhecer mais sobre a leitura que desenvolvemos, tem sido uma contínua provocação, visto ser comum ouvirmos referências sobre a não-leitura dos alunos que nos levam a busca de encontrarmos novas formas de pensarmos a leitura – contínua presença, na formação dos estudantes. Ao repensá-la, encontrarmos novas formas de lidar com ela, no processo de ensino-aprendizagem.
Acreditamos ser possível estabelecermos vínculos professor-leitura-aluno, de maneira a contribuir-se decisiva e positivamente, na formação do aluno-leitor. O pressuposto, que leva este projeto considerar a leitura uma tarefa “afetiva”, concomitante com a razão e o pensar. Isso porque vamos ao texto (a menos que tenhamos “obrigação” de ler, como, por exemplo, na vida educacional, quando temos solicitações de leitura, no cumprimento das exigências de cada disciplina) porque ela faz parte do nosso entorno, da nossa vida. No texto, procuramos informações, diversão, ou elementos que nos ajudem a rever, aprofundar, comprovar idéias. Através de diferentes autores, vamos constituindo/aprofundando nossa visão de mundo. Desta maneira, encontramos respostas e novas perguntas, nos textos. Se fazemos da nossa vida um contínuo caminhar, rumo à nossa melhoria (viveremos melhor e mais felizes), enquanto seres humanos, tendo em vista nos aprimorarmos nos caminhos que escolhemos para trilhar, estas perguntas e respostas constituem, sempre, fonte de prazer em nossa vida, quer seja no âmbito pessoal, educacional e/ou profissional.
Visto sermos diferentes, em nossas trajetórias de vida, nossas formações, informações, metas a alcançar e escolhas de rumos a percorrer, também são diferentes. Assim, há que se identificar o significado de “bom leitor” entre os estudantes, e entender-se os elementos que levaram as pessoas - tendo-se presente suas idiossincrasias - a gostarem de ler, ou o quê, na percepção delas, poderia tê-las levado a ler. De posse dessas informações, poderemos transpô-las para situações de leitura cotidiana.

PÚBLICO-ALVO


Professores das redes Municipais, Estaduais, Bibliotecários, Orientadores Educacionais, Supervisores Escolares, Diretores, Funcionários de Escolas, principalmente os alunos, bem como demais pessoas interessadas no projeto.

OBJETIVOS

Geral
•O objetivo das Oficinas do Projeto “Farol da Leitura” é o desenvolvimento da cidadania cultural, com exercícios de leitura conceitual e a qualificação de leitores. As oficinas literárias e filosóficas do projeto são oferecidas preferencialmente aos educadores – grandes aliados deste projeto, junto com os artistas da palavra escrita para que após a preparação sejam grandes colaboradores no desafio de um espaço aberto para pensar, propor, indagar, contar, exibir sons, tons e nuances que a leitura remete.
Específicos
•propiciar um espaço de encontros e de trocas culturais a partir do livro e da leitura, entre autores e leitores, artistas e seus públicos;
•promover oficinas literárias e filosóficas preferencialmente aos educadores , possibilitando condições de um trabalho prévio à realização da Feira do Livro;
•contribuir com estudos sobre a leitura, com vistas a repensar e reorientar o ato de ler;
•identificar o que significa ser “bom leitor”, na concepção dos professores e dos alunos;
identificar elementos intervenientes na leitura, feito pelos professores e pelos alunos, e que propiciam o surgimento do prazer de ler.

METODOLOGIA


Acontecerão encontros dos nossos professores com autores profissionais, voltados à área da literatura, visando compreender a leitura como uma prática social, uma interação entre leitor e texto, em que instigado pelo que lê, o leitor produza sentidos, dialogue com o texto, com os intertextos e com o contexto, ativando o seu conhecimento interno. Assim, o “Projeto Farol da Leitura” atuará junto às redes de ensino municipal, estadual, particular e biblioteca, compartilhando os livros, as histórias, as opiniões, os personagens, os sentimentos, as afinidades, o medo, o prazer... criando desta forma, um clima de interlocução. As histórias são narradas e após a contação e/ou leitura, o acervo que será enviado às escolas será explorado pelas crianças e educadores. Os livros são referências importantes pelas possibilidades de experiências objetivas e subjetivas que proporcionam aos sujeitos. Interagindo com os livros, crianças e educadores, podem conhecê-los e descobrir como são. Desta forma, o sujeito se constitui como leitor, ampliando suas experiências de leitura e sua visão de mundo. A equipe entende que estas vivências têm se configurado como um espaço de formação para os educadores, uma vez que estes momentos possibilitam a aquisição de novos conhecimentos, a reflexão das práticas de leitura e o redimensionamento das ações pedagógicas. Serão realizados encontros mensais e/ou bimestrais, capacitando todos os educadores envolvidos com o Projeto. Ampliando a formação de educadores, o “Projeto Farol da Leitura” participa também do Projeto “Fome de Ler”, através da Câmara do Livro, um convênio com a ULBRA-Guaíba.
O Projeto “Farol da Leitura” tem como critério de escolha a qualidade literária e a diversidade de gêneros, incluindo também, livros que fundamentam a importância da leitura e da literatura na formação dos sujeitos. Os educadores do município podem refletir sobre suas práticas de leitura, como também das políticas públicas em relação à formação de educadores e de incentivo à leitura.


terça-feira, 13 de abril de 2010

Águas que movem moinhos nunca são águas passadas - Celso Sisto - parte 3

FONTE 3 – ÁGUAS DAS CHUVAS

A água que veio do rio, que se juntou ao mar, que evaporou, é devolvida em chuva ou em lágrimas, essa água de dentro...
Ler deve despertar no outro respostas criativas e uma reconciliação consigo mesmo!

TERCEIRA CONCLUSÃO: além da emergência do ser social, um programa de leitura deve oferecer espaço para a emergência do ser estético/criador, usuário de todas as suas potencialidades, que transita confortavelmente pelo universo das linguagens.
(Utópico?)


O que acontece é que lemos mal. Nosso século sofre de subnutrição literária/artística/de linguagem. Então, um programa de leitura deve se espalhar, deve buscar o leitor, de muitos jeitos e em todos os lugares possíveis. Não esperar que o leitor venha espontaneamente, porque esse leitor espontâneo já está conquistado. O desafio é conquistar o leitor esporádico, intermitente... Queremos o leitor crítico. Queremos apostar em todas as linguagens. A informativa (ou científica), a profissional (ou instrumental), a de lazer (ou recreativa).
Mas, a leitura depende então de estratégias e mediadores competentes.

Um programa de leitura é uma série de eventos ou uma política de leitura?

Política demanda uma continuidade, perspectivas de longo prazo, avaliação constante, um refazer de rumos, uma variedade de ações voltadas para todos os níveis, todo tipo de público; (uma feira de livros pode espelhar uma política de leitura? Com certeza! Desde que saibamos o que fazer com o que nos é oferecido!).
Afetar o seu entorno, contribuir para o todo, deveria ser o lema. Ter passado do ato de reconhecimento para o ato de autoconhecimento, do ato de autoconhecimento para o ato de criação... Como na canção “Memória das águas”, de Roberto Mendes e Jorge Portugal, cantada magistralmente por Maria Bethânia, que diz:

MEMÓRIA DAS ÁGUAS

Amores são águas doces
Paixões são águas salgadas
Queria que a vida fosse
Essas águas misturadas

Eu que já fui afluente
Das águas da fantasia
Hoje molho mansamente
As margens da poesia

(...)
E foi assim pela vida
Navegando em tantas águas
Que mesmo as minhas feridas
Viraram ondas ou vagas

Hoje eu lembro dos meus rios
Em mim mesma mergulhada
Águas que movem moinhos
Nunca são águas passadas
Eu sou memória das águas
Eu sou memória das águas

Somos feitos de obras! Da soma das obras! Somos feitos também do olhar do outro, da presença do outro EM NÓS , de dois jeitos: nós pronome plural e também substantivo. Desatar os nós é libertar-se, com os outros...

PALAVRA FINAL: Promover a leitura não está dissociado das questões sociais e atividades leitoras precisam sempre de um projeto político que lhes dê sustentação.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Águas que movem moinhos nunca são águas passadas - Celso Sisto - Parte 2

FONTE 2 - ÁGUAS DE MAR

Uma política de leitura deveria partir sempre da pergunta: pra que ler?

SEGUNDA CONCLUSÃO: ler então deve criar no outro a perspectiva do crescimento, do uso, da melhoria, da interferência na realidade concreta. Lê-se para poder interferir na realidade, em última análise. A leitura nos devolve a realidade, parece contraditório! A leitura nos encharca de realismo!

Guimarães Rosa, no conto “Nós, os temulentos” diz que dormir é desaparecer de si mesmo. E ler? Ler é estar desperto, apesar de estar suspenso, navegando nas águas do mar de histórias, sem afogar-se, para que cada um continue sendo um, sendo todos.
Nesse mar, as ondas são altas... Lá vem uma! Em forma de pergunta!

Quando eu me torno um verdadeiro leitor?
Desconfio que essa composição de Caetano e Gil pode nos ajudar na resposta....

HAITI
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Pois um programa de leitura é isso: perceber/denunciar a ordem das coisas. É possibilitar a dignidade e fazer emergir direitos e deveres sem propinas. É poder dizer, ao contrário do Caetano, “Todos, todos, sem exceção, todo mundo é cidadão”

Ler também é desencravar o que vai dito por baixo das palavras.
Ler é também perceber a superfície e a profundidade.

Então, um programa de leitura tem que ter ações diferenciadas, para leitores diferenciados. Não dá pra acachapar/reduzir tudo a uma coisa só.

O leitor precisa amadurecer, e de fato amadurece, quando começa a fazer ligações, quando começa a perceber as conexões da leitura com o mundo, com a sociedade, com o coletivo. Quando o comprometimento com o outro aparece e, enfim, emerge o ser social.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Águas que movem moinhos nunca são águas passadas - Celso Sisto - Parte 1

Para responder à pergunta: o que é um Programa de Leitura - diversos olhares
Pra mim água é a força invencível do mundo. E elemento vital.
Quero associá-la à leitura; leitura é a força invencível do mundo.
Um programa de leitura é um elemento vital na formação e emancipação do sujeito.
Por enquanto, a água do rio, o rio da leitura, que sabemos que tem que fluir...
Não pode parar de fluir...


FONTE 1 – ÁGUAS DE RIO

A leitura é um ato político. Sempre. Por mais que a gente não se dê conta disso. Nenhum texto é ingênuo, nenhuma interpretação é isenta de posicionamentos, por mais que nela não se levantem bandeiras ou se tome deliberadamente partido de algo. Ou se assuma um tom panfletário.
A leitura é um ato político, e político é projeto de inserção do sujeito. Não o sujeito manipulável, massa de manobra, mas o sujeito crítico.

PRIMEIRA DEFINIÇÃO
Programa de Leitura deveria ser um projeto (= processo) para formação, capacitação desse sujeito crítico e sua inserção (atuação) no mundo que o cerca!
Ler é sempre interpretar. Ler é posicionar-se. Ler é produzir sentido. E nada pode fazer sentido se não estiver associado à vida das pessoas. Se não falar de perto. Se não for fruto de uma necessidade.

PRIMEIRA CONCLUSÃO: um programa de leitura deve criar no outro a necessidade de ler.
Como?
Fazendo emergir a crença de que a leitura é um gênero de primeira necessidade.
Primeira necessidade é aquilo que mantém a gente vivo, que sustenta o corpo, que alimenta.
Como, num país em que se tem que combater primeiro a fome?
Lembro-me do poema “Apetite sem esperança”, de Elisa Lucinda:

APETITE SEM ESPERANÇA

Mãe eu tô com fome
eu dizia eu gritava eu mugia
minha vó zangada respondia
você não está morrendo e nem tem fome
Você tem é apetite
Você sabe que vai comer, aonde comer, o quê vai comer.
Fome não! A fome, minha neta,
a fome, meu irmão, a fome, minha criança,
é um apetite sem esperança.
Quando há certeza de cereais, toalhas americanas,
guardanapos e alegrias da coca-colândia
não há fome de verdade.
Minha vó já dizia pra mim um futuro de Brasil.
Com a fome das crianças brasileiras
forra-se a mesa, arma-se o banquete
dos que sempre tiveram apenas apetite.
A faminta criança foi apenas o álibi, o cardápio, o convite.
Desmamada ela cresce procurando o peito da pátria amada
uma banana, uma manga, uma feijoada
e a mãe pátria diz nada.
(...)
A fome gera a cilada de uma pátria de não irmãos.
A gente podia ter gripe, asma, catapora, bronquite
A gente podia ter apetite mas fome não.
Minha vó bem que dizia sem errança:
fome é um apetite sem esperança.

No poema em que a escritora Elisa Lucinda diz que a “fome é um apetite sem esperança”, eu queria propor uma outra visão: a da leitura como um apetite esperançoso. Suprida a fome da carne, a fome de leitura alimenta o espírito. Alimenta a fantasia, porque treina o nosso imaginário; alimenta o ser ético, porque nos leva a perceber as constituições dos sujeitos, seus valores e as conseqüências de suas atitudes; alimenta o ser psicológico, porque nos leva a viver, no plano da imaginação, os melhores e os piores conflitos, para que eles nos sinalizem, quem sabe, destinos; alimenta o ser histórico, porque através dele podemos compreender o nosso tempo, o nosso espaço, as relações que se estabelecem entre os outros; alimenta o ser social, porque entendendo a realidade e como nos inserimos nela, estaremos aptos a escolher as melhores ferramentas para a luta; alimenta o ser estético, porque estimula a resolução criativa dos conflitos, porque nos coloca em contato com diversas linguagens, sobretudo artísticas; alimenta o ser pedagógico, porque somos desde o princípio aprendizes, porque tudo o que nos afeta nos faz aprender alguma coisa, seja pela curiosidade, seja para lançar luz ao não-saber, seja pela emoção desenfreada; alimenta o ser cultural, porque coloca-nos em contato com sistemas de vida diferentes dos nossos, para que possamos integrá-los, de algum modo.
Uma política de leitura então começa em âmbito pequeno, circunscrita ao espaço mais imediato: em casa, na família, a leitura precisa ser um valor positivo; é preciso que as crianças vejam os pais lendo desde cedo; é preciso que livros ganhem espaço físico em casa, em forma de prateleiras ou estantes, e que se leia todo tipo de coisas: de revistas, à bula de remédio; de programas televisivos às receitas culinárias; de cartas à tela de computadores...
Na escola temos um nó da questão: a leitura está associada à Escola nesse país! E será que a escola tem uma política de leitura? Configurada num programa de leitura? A escola tem tido muita dificuldade em ver a leitura longe do exercício obrigatório e perto do exercício do prazer. Então, um programa de leitura, tem que passar também pela desescolarização da leitura. Pela prática da desobrigação do ler para escrever, do ler para fazer exercícios e responder questões em provas.
Quando é que chega finalmente a leitura para o sujeito inflar-se de coisas boas? A leitura acompanhada do prazer? Mas essa não precisa estar isenta de desafios! (Esse é um erro. Aquilo que desafia, na medida certa, e se colocado do jeito certo, é estimulante). Mas também é preciso que os livros estejam presentes em todos os lugares. Que se vejam pessoas lendo na praia, no banco, nas filas de espera, nas praças, em todos os lugares.
Um programa de leitura deve criar e promover, espaços permanentes de leitura... (ESCOLAS, BIBLIOTECAS, CENTROS CULTURAIS, MUSEUS, TEATROS, CENTROS COMUNITÁRIOS, CINEMAS, LIVRARIAS, SEBOS, ETC.)

segunda-feira, 5 de abril de 2010


Biblioteca da Estação: Inaugurada em 20 de março de 2008, junto à Secretaria Municipal da Cultura, na antiga Estação Férrea de Caxias do Sul, dispõe de um acervo infantil e juvenil de aproximadamente 3 mil exemplares. Recebe visitações de escolas e do público em geral.

Biblioteca da Estação vai à Escola: Lançado em 2008, o projeto dispõe de 12 bolsas com 30 livros cada. As escolas agendam a retirada de uma bolsa e permanecem pelo período de um mês com ela.

Biblioteca da Estação na sua casa: O projeto foi lançado em novembro de 2009. Oferece a cada sócio da Biblioteca Infantil o empréstimo de até 5 títulos por um período de 15 dias.

Jardim da Leitura: Espaço anexo à Biblioteca da Estação com ambiente claro, em meio à natureza, destinado à leitura.

Premiações do Programa Permanente de Estímulo à Leitura:

Prêmio O Sul - Nacional e os livros (2005)‏
Prêmio Cultura FAMURS / CODIC (2008)‏
Participação do Fórum do Plano Nacional do Livro e Leitura entre os melhores projetos do Brasil (2008)‏
Concurso Pontos de Leitura (2008)‏
Troféu Amigo do Livro / Câmara Rio-Grandense do Livro (2008)‏
Prêmio FNLIJ / Petrobras - 1º lugar (2009)‏


Programas de Leitura: PPEL – Programa Permanente de Estímulo à Leitura - LIVRO MEU







Prefeitura Municipal de Caxias do Sul
Secretaria Municipal da Cultura
PPEL – Programa Permanente de Estímulo à Leitura - LIVRO MEU

Com objetivo de valorizar o livro e democratizar a leitura, a Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul criou, em 2005, o Programa Permanente de Estímulo à Leitura / Livro Meu. Todo homem tem direito ao livro, ao seu livro e que ele diga Livro Meu e descubra o quanto a leitura é necessária para o real exercício de sua cidadania.

O Programa trabalha com os seguintes projetos:

Tapete Mágico: Objetiva promover o livro e a leitura, por meio do teatro e suas linguagens. É destinado a séries iniciais do Ensino Fundamental, escolas infantis e outras instituições da comunidade caxiense. Está na 10ª edição. A partir de 2005, com o Programa Livro Meu, ampliou-se o número de apresentações e mais de 10 mil crianças participam anualmente.


Bibliotecas Comunitárias: Parceria do PPEL, Centros Comunitários, Secretaria Municipal da Educação – SMED e PIM – Programa Primeira Infância Melhor. Em 2008, foram implantadas 10 Bibliotecas em 10 Bairros de Caxias do Sul. Em 2009, foram realizadas oficinas para Capacitação de Mediadores de Leitura responsáveis pelas bibliotecas de cada bairro. Em 2010, mais 10 novas Bibliotecas serão inauguradas em bairros da cidade já selecionados.
O acervo das Bibliotecas Comunitárias, com cerca de 800 livros cada, fica disponível a todos os moradores dos bairros.

Cangurus da Leitura: Parceria do PPEL e PIM. O Projeto dispõe de bolsas projetadas especialmente para transportar livros de literatura infantil cuidadosamente selecionados. O nome do projeto tem como referência o canguru que, por carregar o filhote em sua bolsa, representa o cuidado e a proximidade afetiva necessária para o desenvolvimento saudável das crianças.
As bolsas do Cangurus da Leitura circulam nos 26 bairros de Caxias atendidos pelo PIM e cerca de 500 famílias têm acesso aos livros.

Malas de Leitura: Encontram-se disponíveis em UBS's (Unidade Básica de Saúde), CIAD's (Centos de Inclusão e Alfabetização Digital) e fábricas da cidade. Aproximadamente 60 mil pessoas têm acesso às Malas de Leitura.

Passaporte da Leitura: Atividade preparatória para a Feira do Livro de Caxias do Sul, incentiva a participação dos alunos e da comunidade no evento e contribui para ampliar o acervo das bibliotecas escolares. As escolas desenvolvem projetos para a leitura de obras de autores convidados, envolvendo toda a comunidade onde estão inseridas. Está na 6ª edição, e até aqui participaram 120 escolas, mais de 60 escritores e cerca de 10 mil crianças diretamente e 30 mil pessoas indiretamente.
O programa já destinou cerca de 4 mil livros para enriquecer o acervo das escolas.

Encontro Estadual de Leitura - PROLER: Acontece em Caxias do Sul desde 1993 e é destinado a professores de Ensino Fundamental e Médio em escolas municipais, estaduais e particulares, bibliotecários, professores e comunidade interessada na promoção da leitura.
A cada ano são oferecidas 300 vagas, para participação em 10 oficinas realizadas por escritores e especialistas na área da leitura.

Feira do Livro: Além da comercialização de livros com desconto, realiza eventos culturais em torno do livro, oferecendo um ambiente de cultura e lazer. Em 2009, mais de 300 mil pessoas visitaram o maior evento literário de Caxias do Sul, onde foram comercializados mais de 71.200 livros. Está na sua 26ª edição.